Garoto dá voz de assalto, a vítima reage e ele aperta o gatilho... O envolvimento de adolescentes com o crime é cada vez maior em Maringá. Fica a pergunta: o que fazer?
Um garoto franzino, 1,25 metro de altura, cerca de 30 quilos e com o rosto coberto por um capacete de motociclista entra num bar, no Jardim Aeroporto, em Maringá, e aponta um revólver para o peito do comerciante Moacir Aparecido Pizani, de 60 anos. “É um assalto”, alerta o menino enquanto caminha em direção da vítima.
O comerciante parece não acreditar na cena e, numa fração de segundo, agarra o braço do garoto, desviando o cano da arma. O menino não se intimida e aciona o gatilho duas vezes, mas a arma falha. Enquanto o comerciante luta para dominar o pequeno assaltante, um vizinho percebe a movimentação e aciona a Polícia Militar.
Levado à delegacia, o menino avisa: “Tenho 11 anos. Chama o Vandré (Fernando), do Conselho Tutelar”. A polícia decide checar a idade e descobre que o garoto mentiu: ele tem 13 anos e um histórico de passagens pelo Conselho Tutelar. Indiciado em procedimento especial pela prática de infração penal, o garoto confirma a tentativa de roubo e revela que na noite anterior havia fugido do Hospital Psiquiátrico, onde passava por um tratamento para deixar o crack.
Além de confessar o crime, ele revela que a arma — cedida por um comparsa, que fugiu da cena do crime em uma moto — só não disparou porque estava com uma munição só. “Se a vítima vier pra cima, atiro mesmo”, diz ele, sem demonstrar arrependimento.
Vergonha
Dois dias após ser apreendido, o menino aceita conversar com a reportagem de O Diário. Ele deixa a cela – que divide com outros seis adolescentes infratores – com os olhos inchados de tanto dormir e cheirando a urina.
Ele se envergonha da situação, mas se mostra confiante quando questionado sobre as tatuagens – teia de aranha, estrela, adaga, capeta com tridente, o nome de uma garota, as iniciais de seu nome e sobrenome e a frase “Só Deus pode me julgar” – espalhadas pelo corpo, todas feitas de forma improvisada e com tinta de caneta. “Fiz tudo na cadeia”, explica ele, enquanto se remexe na cadeira para exibir uma a uma.
F., como gosta de ser chamado, conta que o pai – dono de uma extensa ficha criminal - está preso no Centro de Detenção Provisória, cumprindo 20 meses de reclusão por furto qualificado; a mãe – ex-usuária de crack – trabalha como diarista, e a irmã, de 17 anos, está internada, há oito meses, em uma clínica para dependentes de drogas em Jacarezinho.
Conta que parou de estudar no 2º ano do ensino fundamental e que passa o dia sozinho em casa, um conglomerado de cômodos localizado na Vila Operária, conhecido ponto de venda de drogas. “Quando sinto fome, eu mesmo cozinho”, afirma, narrando, com detalhes, como prepara o arroz e feijão. Bem falante, F. revela que iniciou na vida do crime aos 11 anos, arrombando uma casa no Jardim Aeroporto. Os objetos furtados foram vendidos e o dinheiro usado para comprar roupas e um par de tênis. Depois de praticar vários outros furtos, criou coragem para assaltar.
Na primeira tentativa, quase matou a vítima, que tentou acertá-lo com um tijolo. “Atirei nele, mas errei”, conta, sem remorso. Na segunda vez, conseguiu roubar R$ 150 de um bar, gastos com crack. O terceiro assalto foi na quarta-feira passada.
Sonho
Questionado se tem algum sonho, F. diz que sempre desejou morar numa casa própria junto com o pai, a mãe e a irmã, levando uma vida normal, igual a de muitos garotos que encontra pela cidade. No entanto, reconhece ter pouca – ou nenhuma — chance de mudar de vida.
“Sei lá. Não sei o que vai acontecer e nem quero pensar nisso. Só vivo o agora. Não penso no amanhã. Saí da escola para ir à luta e é o que estou fazendo”, responde ele, cabisbaixo. Antes de encerrar a entrevista, F. revela que será mandado para um educandário. Pergunto se ele está com medo. “Eu não queria ir, mas medo eu não tenho. Tenho muitos amigos lá”, responde ele, antes de voltar à cela.
Fonte: Roberto Silva - rsilva@odiariomaringa.com.br - 21/02/2010
AINDA EXISTEM PESSOAS QUE NÃO ENTENDERAM O QUANTO O SER HUMANO É "INSIGNIFICANTE" DIANTE A GRANDIOSIDADE DO PODER DA NATUREZA - Carlos Cordeiro Mariano "Faça do Pedal uma Aventura! Nos vemos: Pedalando por Aí"
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